sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

As finanças estatais e a tática da grande mídia no início do governo Tarso Genro

Por Roberto Flech

O Secretário da Fazenda Odir Tonollier apresentou em entrevista ontem a situação em que o governo da Unidade Popular encontrou as finanças públicas. Há um caixa zerado, com restos a pagar de mais de R$ 1 bilhão e o reconhecimento de uma crise estrutural do Estado.

Sua apresentação contrasta com o afamado déficit zero, que fora propagado aos quatro cantos pela ex-governadora e grande parte da mídia gaúcha. Além disso, explicita as diferenças de projeto e concepção do papel do Estado no período atual entre o governo que sai e o que chega.

O slogan Déficit Zero ajudou na vitória de Yeda, norteou as ações de seu governo e serviu como uma justificativa para aprofundar o projeto neoliberal e suas receitas tão conhecidas dos gaúchos. Entre outras coisas, combinava endividamento externo, diminuição e precarização dos serviços públicos, arrocho salarial, terceirizações, privatizações e favorecimento de grandes grupos econômicos.

As urnas rejeitaram este projeto, como aconteceu em 1998. O Estado do RS deverá novamente inverter prioridades para voltar a crescer (e de forma sustentável).

No entanto, deve ser registrada a desproporcional atenção dos maiores veículos de construção da opinião publicada gaúcha em relação aos dois projetos. O slogan da governadora ganhava grande espaço (inclusive nos cadernos de economia, tido como verdade inegável, absoluta, necessária, técnica, científica, irreversível, etc.) e entrava quase que diariamente na pauta.

O anúncio do secretário, como era de se esperar, não provocou a mesma euforia. Na edição de hoje do Diário de Santa Maria, mereceu apenas uma pequena nota . No blog da colunista política de Zero Hora, o fato nem sequer foi comentado, perdendo lugar para a repercussão do importante caso Ronaldinho Gaúcho . No “Jornal do Almoço” de hoje, Lasier Martins aparentou certa estranheza e decepção quanto aos dados divulgados, dando a entender que não sabia que o governo Yeda estava enganando a população. Definitivamente a pauta dos vencidos não é apresentar os nefastos efeitos da política econômica neoliberal que tão bem defenderam.

Estamos no início do governo Tarso Genro e aparecem os primeiros sinais sobre como será o comportamento da mídia. Ainda pairam dúvidas, no entanto. Provavelmente continuarão a negar a realidade e construir uma pauta focada em garantir uma parcela de mercado com uma visão de mundo cada vez mais elitista, preconceituosa e descompromissada com necessárias mudanças progressistas.

Mas ainda não sabemos se darão o mesmo tratamento de oposição permanente que foi dado ao governo Olívio (ou de Veja e Folha ao governo Lula, por exemplo), ou se serão mais sutis, inclusive disputando por dentro o governo, disputando a versão dos fatos e atuando de forma raivosa apenas nos temas que lhe são mais caros e sobre os quais ainda não pensaram em entregar os anéis para preservar os dedos.


2 comentários:

  1. Espero que Tarso enfrente uma oposição franca e consiga vencê-la daqui há quatro anos, como Lula enfrentou e venceu, abrindo caminho para Dilma. Oposição franca é sinal de que é a política própria que está incomodando a burguesia, e não as versões dos mesmos fatos. Embora saibamos que a política gaúcha não reproduz a conjuntura de forças da política nacional e que o conservadorismo, no RS, é predominante.

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  2. Fundamental refletetirmos (e trabalharmos) para que avancemos na democratização dos meios de comunicação e construção de outros meios de comunicação em massa com a população, para não ficarmos, enquanto esquerda, dependendo da "boa vontade" dos grandes conglomerados midiaticos. Uma iniciativa é este blog (parabéns galera! muito bom), mas precisamos avançar para além da esfera virtual.
    Forte abraço!
    Pedro - DCE UFSM - UNE

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